segunda-feira, 10 de janeiro de 2011





A mãe perguntou-me orgulhosa - agora cê é poeta fia? - Respondi que não. - A palavra, esta me apazigua. Eu, sou apenas a filha única da Margarida.
Ela achou pouco. 
Margarida passou a vida bordando uma cortina de perguntas e só aprendeu os macetes do perdão depois que eu aprontei nela mil enfeites de malcriação. Ou quando suas roupas encardidas de mágoa fugiam de rabeira no vento, enquanto eu gracejava com seus pregadores. Ou quando eu dizia que as flores são apenas perguntas que a terra faz para o nosso olhar distraído. Ou quando, para desafiar sua vaidade, eu contava que seu nome era uma das palavras preferidas dos compositores. 
Porque será que ela não me deu nome de flor? Eu talvez gostasse de me chamar Camélia ou Jasmim. Mas farto-me em ser apenas a filha única da Margarida, aquela que capinou canteiros inteiros nas veredas de sua alma. Aquela que perguntava aos cantos seus porquês e agora pensa que eu sou poeta e anda por aí com ares que me decifrou... Aquela que pouco floriu. Mas hoje ostenta primaveras o ano todo. Que me importa então o que pensam de mim? Se sou bem pouco suficiente para as expectativas, se causo preguiças com minhas coisinhas ou se não sou moça fácil de se tratar? Depois de hoje, Margarida nasceu de mim, eu parí uma flor enfim. Porque ela descobriu algo novo. E essa é a vida que ela sempre esperou saber. Que as minhas abstrações eram apenas traquinagens vestidas de versinhos que eu insistia em lançar ao ar, mas alcançavam seu coração com o poder que só uma mãe tem sobre uma filha.

Ela achou muito!




Eu vou partir, 
pra cidade garantida, proibida.
 Arranjar meio de vida, Margarida... 
Pra você gostar de mim...

E essas feridas da vida Margarida. 
E essas feridas da vida, amarga vida... 
Pra você gostar de mim. 'Vital Farias'













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